MOMENTOS DE UM PLANTÃO AGITADO

Final de semana de sol, depois de dias de chuva e frio. Na última semana foram registradas as menores temperaturas do ano – entre zero e alguns “menos graus”.
Que maravilha, estou de plantão! A pauta está cheia e isso é bem natural. Afinal é começo de mês, véspera de dia dos pais, os trabalhadores receberam seus salários, o comércio está agitado, há muitas festas e eventos por aí.
Em Francisco Beltrão, a noite deste sábado foi de alegria. O Marreco futsal deu um show na quadra e venceu o Foz Adeafi por 6 a 2 pela chave ouro do Paranaense. Tudo bem que o mascote, um marreco de verdade, não quis fazer o vôo tradicional na quadra antes da partida, para dar sorte. Mas o jogo foi bonito, a equipe é líder do grupo A e a torcida ficou satisfeita.
É bom encerrar a jornada de trabalho do sábado assim, com uma noite de festa.
Mas a noite pra nossa equipe de trabalho estava só começando...
No caminho de volta a Pato Branco, eu e o cinegrafista André Lessei conversávamos sobre a possibilidade de ser um plantão agitado neste sábado, quando os veículos começaram a nos dar sinal de luz. Resumo: mais trabalho pra nós! Pra nós, pra polícia rodoviária, pra polícia científica, pro IML, pras funerárias...
Na noite que era para ser de alegria, cinco jovens certamente se divertiam quando decidiram pegar a estrada entre Renascença e Francisco Beltrão. Esta história se cruzou com a nossa no meio do caminho. Numa reta, o carro saiu da pista, capotou e caiu em uma ribanceira.
Dois jovens morreram na hora. Os outros três foram levados pro hospital, um em estado grave.
Difícil encarar uma dessas na véspera do dia dos pais.
Ao ver aqueles jovens ali, jogados na beira do asfalto, foi impossível não pensar nos nossos filhos, ou nos pais destes adolescentes.
No carro destruído, latinhas de cerveja indicavam o clima de festa que havia. Provavelmente era numa noite que deveria acabar como todas as outras, com cada um voltando para sua casa de madrugada, acordando pela manhã para dar um abraço apertado no seu pai neste domingo e dizer para ele o quanto o ama. Este seria o ciclo natural da vida. Seria, mas não pra estes jovens...
Tantas coisas passam pela cabeça da gente nestas horas em que temos que conter a emoção e exercer a profissão para a qual somos preparados. Mostrar o fato! E o que é o fato? Um carro com pneus carecas, com cinco jovens com idades entre 14 e 28 anos dentro, com latinhas de cerveja, que saiu da pista, desgovernado, capotou e matou dois. Praticamente impossível!
Como poderíamos ver uma cena dessas com frieza? Quem não se sente tocado ao ver uma mãe desesperada aos prantos por encontrar seu filho jogado no asfalto, sem vida!
Já que nada mais pode ser feito por aqueles jovens, tento pelo menos pensar naqueles que hoje puderam dar um abraço nos seus pais. Pensar que o exemplo de ontem pode servir de alerta e ajudar a evitar novas tragédias como esta. Nós, pais, precisamos estar atentos... porque ninguém está livre.
No mais, eles se foram, a vida segue. Nossa noite de plantão também. Pegamos a estrada novamente rumo a Pato Branco. Novos sinais de luz, mais um acidente! Desta vem em menores proporções, sem vítimas, graças a Deus!
Chego em casa, a cabeça cheia, vou tentar dormir. Escrever meus textos, talvez. Como já disse, a vida segue. Segunda-feira tem programa policial, a audiência será grande. Todos querem saber das desgraças do meu final de semana de plantão.