15.3.11

A REVOLUÇÃO É SER FELIZ!

O pré-conceito de independência feminina não tem nada a ver com a verdadeira satisfação pessoal da mulher

Alguém lá no passado disse que as mulheres eram capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo, inclusive aquelas que eram exclusivamente masculinas. E não é que a gente acreditou?
Buscamos independência, estudamos, nos tornamos profissionais reconhecidas. Ao mesmo tempo, tivemos nossos filhos, maridos e ainda conseguimos nos manter magras, elegantes e antenadas.
Este foi o ideal feminino que durante décadas prevaleceu no inconsciente de grande parte das mulheres. Agora descobrimos que ser essa personagem multifacetada nem sempre é garantia de felicidade. Pelo contrário, que podemos encontrar o caminho da realização profissional e pessoal através de escolhas bem mais simples.
Terezinha, mulher de 33 anos, casada, mãe da Amanda de 15 anos e do José Alfredo, de sete, fugiu da tentação de se tornar uma super-mulher e não se arrepende. Moça da cidade, ela estudava, trabalhava e sonhava em ser atriz. Até que conheceu o Sérgio, rapaz do interior que revolucionou a vida dela. O namoro durou pouco mais de um ano. A jovem independente casou-se e foi morar com o marido em um sítio onde vivem há mais de 15 anos, na comunidade rural de Teolândia, em Pato Branco. “Hoje, se fosse pra voltar pra cidade, não voltaria mesmo”, conta sorrindo.
Terezinha se sente feliz e realizada com os afazeres domésticos. Também é ela que administra a atividade leiteira na propriedade. Acorda perto das cinco da manhã para a ordenha das 36 vacas. “Faço o serviço da casa, ajudo o filho menor com a lição da escola, cuido do almoço e depois fico em função da propriedade. Sempre tem muito o que fazer”, conta. ‘A tarde, perto das 16h, faz a ordenha novamente e à noite cuida do jantar. O dia é cheio sempre e todos os dias são quase sempre iguais. “O trabalho da dona de casa não para nunca”, diz sem perder o sorriso.
Perto das dez da noite a família toda já está na cama, mas antes a Terezinha ainda arruma um tempo pra analisar os dados da atividade leiteira no computador, afinal, ela é responsável por este trabalho enquanto o marido tem outros afazeres. “Quando a gente ainda namorava, ele me perguntava o que eu queria com um curso de informática. Hoje esse conhecimento e a internet me ajudam a administrar melhor a propriedade”, conta.
A dona de casa se sente realizada com a vida que leva. “Meus sonhos são todos aqui”, diz. São desejos relacionados à melhoria da qualidade de vida na propriedade rural e também à educação dos filhos. “Quero que eles estudem e se formem em uma faculdade, mas vou deixar pra eles escolherem o que vão querer da vida”, diz. A Amanda quer ser modelo e o José pretende trabalhar no campo.
A escolha da Terezinha foi viver no campo, ao lado da família, dividindo tarefas com o marido. Assim ela conquistou seu espaço e o equilíbrio emocional que tantas mulheres sonham.
Bom seria se todas nós soubéssemos o caminho mais acertado. Só que não é tão simples assim. A psicoterapeuta Valéria Medeiros de Azevedo explica que a mulher tem uma forte tendência a comprar a idéia imposta pela sociedade de que ela deve ser uma espécie de heroína. “Esta mulher está sofrendo de uma síndrome que na psiquiatria chamados de multitasking, ou múltiplas tarefas, onde é cobrado que ela seja boa em tudo. Deve se realizar profissionalmente, mas ao mesmo tempo tem que estar jovem, magra, atualizada com as tecnologias, informada”, diz. “Ela ainda se cobra ter um companheiro e uma relação de qualidade”, conclui.
A empresária Marlene Galeazzi seguiu por este caminho. A influência veio da mãe, uma agricultora, dona de casa, que viveu a revolução feminista. Nascida em uma família de oito irmãos, ela
sonhava em ser uma mulher bem sucedida e independente. A mãe sempre ensinou a importância de estudar e ter objetivos. Os produtos coloniais que fazia eram vendidos com antecedência na cidade e a cada venda, as metas estabelecidas pela mãe eram maiores. Um dos ensinamentos, e talvez o mais marcante na vida da empresária, foi o desejo de crescer e abandonar a vida dura no campo. A imagem da mulher de sucesso, reconhecida na cidade, era a representação absoluta da felicidade!
E ela acreditou que era possível. Mudou-se para a cidade de Pato Branco em 1978, estudou, virou bancária e em alguns anos já era independente. Foi praticamente a realização do sonho. A felicidade se completou com o casamento e os dois filhos.
Simples assim? Claro que não. Como toda a mulher influenciada pela revolução feminista dos anos 60 e 70, e pela mãe que sonhava com uma vida melhor, a jovem Marlene precisou superar barreiras e preconceitos até ser reconhecida como uma profissional tão competente quanto os colegas de trabalho. “Em meados dos anos 80, a mulher tinha esse desejo latente de se reafirmar, de querer ir para o mercado de trabalho e competir com os homens”, conta ela.
Quando perdeu o emprego no banco onde trabalhava surgiu o primeiro conflito. “Eu trabalhava na gerência e quando o banco fechou, tirou o meu tapete, minha vida era o banco”. A mulher independente então precisou recomeçar. E percebeu que poderia encontrar no marido, que tinha um pequeno negócio de equipamentos para veículos, o caminho para o sucesso profissional. “No começo decidi trabalhar com ele meio a contra-gosto, mas quanto pensei melhor decidi: é aqui que vou ficar”,conta. O marido, Edemar Galeazzi, não gostava da parte administrativa, preferia o contato com os clientes e então Marlene assumiu a função. “As metas e objetivos que aprendi lá infância com minha mãe, aqui, mais uma vez me fizeram crescer”. A empresária construiu sede nova para a empresa e ampliou os negócios. Tudo isso aliado à criação dos dois filhos e aos cursos de aperfeiçoamento profissional. Marlene Galeazzi afirma que hoje é uma mulher realizada e feliz porque é apaixonada pelo que faz. Como toda mulher que trabalha fora, também teve conflitos relacionados à criação dos filhos. Viveu momentos de culpa por não estar mais presente, sentiu-se excluída da vida deles às vezes. Mas hoje entende e aceita a decisão que tomou. “Fui melhor como mãe estando realizada profissionalmente”, diz. E esta realização não veio com a independência da mulher, mas com a parceria entre ela e o marido. “Se eu fosse ficar só em casa, seria uma dona de casa frustrada. Eu acredito e conheço muitas mulheres que são felizes assim. Mas eu, do jeito que vi minha mãe sendo uma dona de casa infeliz, não via outra possibilidade se não a de ser uma mulher empreendedora, conclui.”
A empresária Marlene e a dona de casa Terezinha têm em comum a paixão pelas escolhas que fizeram. Foram caminhos diferentes, mas relacionados à busca pela felicidade, respeitando o jeito de cada uma.

Revendo conceitos
A psicoterapeuta Valéria Medeiros de Azevedo apresenta uma realidade cada vez mais comum no consultório dela: “Primeiro a mulher foi buscar a liberdade, desde a queima de sutiã em praça pública. Foi estudar, trabalhar, ser independente, mas acho que ela chegou a um ápice onde começou a morrer mais de infarto, a fumar mais do que o homem. E a família teve um decréscimo neste período. As crianças começaram a usar drogas, os casamentos começaram a se desfazer, os laços familiares ficaram frouxos. A mulher neste momento se deu conta de que é possível retomar isso. Ser boa mãe, boa esposa e trabalhar sem precisar ficar imitando o homem”, explica.

Isso não significa que ela tenha que desistir da sua independência para ser feliz. Para a psicoterapeuta, a mulher independente é dona do seu destino, faz suas escolhas e pode bancá-las. “É livre de preconceitos, está aberta pro mundo, pra outras pessoas, outras culturas. Está sempre disposta a aprender”, explica. “Por isso a independência pode sim, ajudar a mulher a ser mais feliz. Não necessariamente sendo sozinha. O que é um estereótipo”, diz.

Como saber o caminho certo?
Para a psicoterapeuta não existe fórmula. “Há mulheres que podem ser felizes e realizadas sem marido ou sem filhos, apesar de ainda serem muito cobradas pela sociedade”. “A intuição feminina é muito particular e importante, mas não é possível ter certeza de que se está no caminho certo”, diz. O importante é ter sempre o desejo de crescer, independentemente da escolha que fizermos. “Freud dizia que ao crescer a gente perde. Estamos sempre fazendo escolhas e priorizando coisas”, explica.

A psicoterapia pode ajudar com as escolhas. “Se você já esgotou todas as possibilidades como meditar, orar, conversar com amigos e continua insatisfeita, a psicoterapia de orientação analítica pode ajudar a encontrar a origem da angústia, da insegurança e das más escolhas”, diz a psicoterapeuta. Ela defende que todasdeveriam buscar orientação principalmente na faixa dos 20 aos 30 anos. É um período determinante, quanto ainda dá tempo de voltar atrás de algumas decisões importantes na vida da mulher.

A fórmula da felicidade
• O caminho é o equilíbrio: Busque seu espaço profissional, mas privilegie a vida afetiva, amorosa. A busca às vezes demora pra chegar, mas tem muitos casais se encontrando bem mais tarde.
• Retome valores como a família e os laços afetivos.
• Tenha espaço para uma vivência religiosa e espiritual.
• Faça atividades físicas.
• Cuide de si mesma.
• Vista-se com personalidade, seja feminina, não queira imitar os homens.
• Não tente ser o que não é. Esta é a grande sacada: saiba quem você é, se conheça, saiba do que gosta e quais são suas verdadeiras aspirações.
(Fonte: Valéria Medeiros de Azevedo, psicoterapeuta.)
Reportagem de Marilena Chociai publicada na revista Mulher 10 (março de 2011)

2 comentários:

Unknown disse...

Texto fantastico!!! Posso postar no meu blog? Indico a fonte!! Dá uma olhada la e me segue tambem!Vou divulgar o teu!!Parabens!

http://sergioricardo-ricck.blogspot.com/

Marilena Chociai disse...

Pode sim, fique à vontade!

Quem sou eu

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Pato Branco , Paraná, Brazil
Jornalista da Rádio e Tv Educativa do Paraná - TV Paraná Turismo. Mestra em Comunicação - Produção Audiovisual pela Universidad Europea del Atlántico. Pós graduada em Produção de Documentário pela EICTV - Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba. Pós-graduada em Telejornalismo pela FAG. Graduada em Comunicação Social, Jornalismo, pela Fadep. Funcionária da TV Sudoeste - Rede Celinauta de Comunicação entre os anos de 1992 e 2018.