9.5.13

Entre a mulher e a jornalista, sentimentos se confundem diante de tamanha brutalidade

Ao longo dos meus quase 20 anos de jornalismo me deparei com histórias difíceis de encarar com neutralidade.
Uma das mais difíceis delas, foi quando um adolescente matou um jovem casal e abandonou a criança, uma menina, no meio de um matagal. A criança morreu de fome e frio. Foram dias de angústia em busca da criança desaparecida, até que o bandido foi apreendido e contou toda a história.  Lembro bem aquela manhã em que meu telefone tocou e recebi a notícia de que a criança tinha sido abandonada no mato. Fazia muito frio, fui até o quarto da minha filha, sentei na cama dela e chorei descontroladamente... Era impossível que uma criança tivesse restido ao inverno cruel de Palmas e Passos Maia (municipios vizinhos). Mas levar a informação exige força, por isso, deixei em casa a emoção e seguimos para as buscas, até que o corpo da criança foi localizado.


O menor acusado pelo crime, fugiu da prisão em SC algum tempo depois e foi recapturado em Palmas / PR. Mais uma vez tive que passar por cima de todos os sentimentos que ressurgiram e entrevistar o criminoso.
Era um jovem frio, não fez a menor questão de disfarçar a falta de qualquer tipo de arrependimento.
Contou que matou como quem mata uma mosca. Contou que largou a criança no mato como se deixa um cachorro na rua. Só que cachorro tem faro e sabe voltar pra casa...
A entrevista acabou. Lembro que me sentei na sala do delegado e tive outra crise de choro e estresse. Como pode um ser não esboçar qualquer sentimento diante da brutalidade que cometeu?

                                                         *
Com o tempo a gente pensa que nada mais nos surpreende até numa manhã ser chamada para outro plantão...
Mais mortes, mais crianças, outra família destruída.
Era um começo de ano, uma casa havia sido incendiada, numa comunidade rural de Enéas Marques.
Toda a família estaria dentro da casa. Quatro pessoas morreram queimadas, entre elas, uma adolescente e o irmão dela, um garotinho, de nove anos. O suspeito pelo crime: Gilmar Reolon, o pai.
Nestas horas, tenho o hábito de chegar no local do crime e ouvir, só ouvir...
Foram tantas histórias de vizinhos, de familiares... e todas levavam a uma única explicação: o homem teria matado a esposa, a sogra e os filhos, porque estava encrencado e cheio de dívidas.
Três anos depois, o crime foi esclarecido com a prisão do suspeito, que passou todo este tempo escondido no mato.

http://www.youtube.com/watch?v=RZFR9k3ojsM&list=UUcrBn7U86hqjdRRjmK7RtMg&index=21

Outro caso de grande repercussão foi o desaparecimento de uma criança indígena, da reserva de Chopinzinho. Não acompanhei o caso, mas por uma ironia do destino, no dia em que o corpo foi encontrado, a matéria caiu na minha mão.

http://www.youtube.com/watch?v=R6fGolzwaMs&list=UUcrBn7U86hqjdRRjmK7RtMg&index=2

Hoje, mais um crime bárbado repercute pela nossa região.
Um pai mata os três filhos pequenos a facadas e diz que matou porque eles estavam passando fome.

http://beta.portalrbj.com.br/noticia.php?id=10404

Tanta brutalidade, tantas justificativas...
Para mim que sou mãe, difícil de entender ou aceitar.
Para a jornalista,  dar este tipo de notícias com neutralidade é um grande desafio.




2 comentários:

Jovilde Lourdes Lupattini disse...

Eu imagino o quão difícil é manter a neutralidade quando nosso coração de mulher, mãe e cidadã grita por justiça, por respostas...Mas trabalhar é preciso!

Rosangela Marquezi disse...

Lendo o seu texto, uma pergunta não cala: para onde caminhamos? Triste, revoltante e lamentável tantas tragédias...

Quem sou eu

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Pato Branco , Paraná, Brazil
Jornalista da Rádio e Tv Educativa do Paraná - TV Paraná Turismo. Mestra em Comunicação - Produção Audiovisual pela Universidad Europea del Atlántico. Pós graduada em Produção de Documentário pela EICTV - Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba. Pós-graduada em Telejornalismo pela FAG. Graduada em Comunicação Social, Jornalismo, pela Fadep. Funcionária da TV Sudoeste - Rede Celinauta de Comunicação entre os anos de 1992 e 2018.